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De qualquer modo, abandonar os referenciais sociais que norteiam a vida no mundo atual e as fixações sociais, geográficas e afetivas trazem dificuldades que são instaladas com o abandono. Por este motivo, que nenhum caso isolado, por mais desestruturante que seja, leva, por si só, uma pessoa à condição de morador de rua, errantes, nômades, ou seja lá qual for a nomenclatura correta. Pesquisas indicam que, na maioria dos casos, há uma interação dos diversos fatores que causam a deserção. As vezes é pelo abandono familiar imposto, outros vezes escolhem viver nas ruas por se sentirem abandonados. Estudos aplicados pela universidade federal de São Paulo (Unifesp), demonstram que a ingestão de bebidas alcoólicas está pouco ligada a uma necessidade urgente de esquecer as dificuldades da vida, relacionadas tanto às frustrações e fracassos do passado quanto às condições adversas à realidade do presente. A falta de perspectivas promissoras para o futuro leva a uma anulação de aspirações e à desesperança. O álcool representaria uma possibilidade de evasão dessa difícil realidade, trazendo certo alívio e tranquilidade, ainda que por um breve momento. A ingestão de bebidas alcoólicas pode ser um dos principais fatores, mas não é único. O essencial seria acompanhar caso a caso dos moradores de ruas de Laranjeiras, investigando por meio das conversas, a história de vida de cada um, o relacionamento familiar e social, identificando traços marcantes da vivência. Depois desse processo seria importante compreender o que levou a ruptura com a rede social e as vantagens e desvantagens desse modo de viver. Relações afetivas são fatores relevantes da investigação, já que muitas delas causam doenças mentais como depressão e esquizofrenia. A VOZ DE UM MORADOR DE RUA O número de moradores de rua de Laranjeiras tem aumentado. É só dar uma volta pelo centro da cidade durante a tarde que podemos visualizar alguns. Na maioria, são senhores de idade e com problemas de alcoolismo. Procuramos saber mais sobre a vida de um deles. João Maria é natural da cidade de Candói e desde pequeno vive em Laranjeiras. Parte dos 65 anos de idade foram ao lado da mãe. Tinha o próprio abrigo em uma casa, simples como disse, mas sua. Exercia a profissão de pedreiro, era um dos bons, trabalhou em Santa Catarina e São Paulo. Foi quando a vida teve uma reviravolta. João ficou doente por problemas pulmonares e o diagnóstico era que os dias de vida seriam escassos. Um tempo depois da avaliação médica, João teve que enfrentar a morte de sua mãe e relata.“Perdi a única coisa que tinha. Nunca pensei em mulher e filhos. Minha vida é andar pelas ruas sofrendo. Eu durmo por ai, durmo aqui na prefeitura velha, na igreja, sem cobertor, sem nada. Espero viver minha vida, melhorar o quê? Eu trabalhei muito na minha vida e hoje não tenho um centavo” disse. EM BUSCA DA RESPOSTA A deserção é um fenômeno complexo e multifatorial, intimamente ligado a algumas das constantes transformações sociais. Também temos que reconhecer que a política econômica, a globalização, a precarização das condição de vida oferecem poucas oportunidades para a relações de trabalho, o desemprego e a exclusão social. Procuramos contato na secretaria de Assistência Social e Segurança da Família e obtivemos uma resposta de uma funcionária que não quis se identificar. “Laranjeiras do Sul não tem moradores de rua. Todos eles têm lugar para morar. Alguns deles já foram encaminhados para receber cuidados em instituições sociais, mas eles preferem viver nas ruas. Nesse caso, a lei ampara o direito de ir e vir, e aí não podemos mais agir. É um direito deles.” Muitos são os fatores sociais, psicológicos e econômicos que influem no abandono social. Fazer vista grossa para o o problema, não é a melhor solução. Medidas paliativas não solucionam o problema. As autoridades precisam se mobilizar para oferecer o mínimo de dignidade de sobrevivência humana. http://www.jcorreiodopovo.com.br/exibenoticia.php?id=cresce-numero-de-moradores-de-rua-em-laranjeiras-do-sul |
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