sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Como nascem os nomes das cidades?

Muitas levam a alcunha de santos e personalidades, mesmo que adaptadas, como a de Braganey, que homenageia o ex-governador do estado. Outras são influenciadas por rios ou por fenômenos naturais marcantes como o caso de Ventania, que reporta a um episódio ocorrido em 1870. Algumas das denominações têm diversas explicações, nem sempre consensuais, mas todas despertam a curiosidade de quem procura saber mais sobre a história do estado

Santo Antônio e São João prevalecem

Boa parte dos nomes das cidades paranaenses está ligada à questão religiosa. Por ser um país de tradição católica, o Brasil conta com mais de 2,5 mil cidades que homenageiam santos em seus nomes, segundo o Instituto Brasi­­leiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Paraná, não é diferente, tanto que quase 40 cidades le­­vam nomes de santos e santas. Entre os mais citados estão São João (que batiza as cidades de São João, São João do Caiuá, São João do Ivaí e São João do Triunfo) e Santo Antônio (lembrado em Santo Antônio da Platina, Santo Antônio do Caiuá, Santo Antônio do Paraíso e Santo Antônio do Sudoeste).

9 mais curiosos
Veja como surgiram algumas das denominações de municípios paranaenses:
Ampére
Leva o nome do rio batizado por um pescador que indagava quanta energia uma barragem poderia gerar.
Ariranha do Ivaí
Situado nas margens do ribeirão que leva o nome desse animal, muito encontrado na região.
Barra do Jacaré
Localizado na beira do Rio Jacaré, que ao desaguar no Rio Cinzas forma uma barra, segundo os colonizadores.
Cantagalo
Pouso de tropeiros onde se ouvia o canto de um galo, ou ainda que eles entoavam a melodia “Cantiga de Galo”.
Dois Vizinhos
Uma versão diz que o rio da cidade tinha dois afluentes assemelhados; outra cita dois moradores da beira do rio.
Pato Bragado
Inspirado no maior navio ancorado na época da colonização no Porto Britânia, no Rio Paraná.
Rancho Alegre
Às margens da estrada boiadeira que cortava a região havia um rancho onde eram promovidas festas e danças.
Roncador
Dado por exploradores que em um dia de chuva ouviram o ronco produzido por um volumoso curso d’água.
Saudade do Iguaçu
Inspirado no sentimento de José Ascoli, um gaúcho apaixonado pelas belezas do Rio Iguaçu.
Fontes: livro “Municípios Paranaenses Origens e Significados de Seus Nomes”, de João Carlos Vicente Ferreira, e IBGE.
IBGE revela raiz das alcunhas dos municípios
Muitas das explicações utilizadas nesta reportagem foram extraídas do Banco de Nomes Geográficos do Brasil, serviço pioneiro disponibilizado à população no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pela base de dados disponível na internet, é possível conferir, por exemplo, a grafia correta de mais de 50 mil nomes de localidades do território brasileiro, entre cidades, vilas, povoados e unidades de conservação. O acervo eletrônico traz ainda a história da origem de designações de diversos municípios.
Segundo a coordenadora do Banco de Nomes, Márcia Ma­­thias, o projeto é fruto de pesquisas desenvolvidas desde 2005. Em entrevista para a Agência Brasil, ela informou que o acesso às informações vai permitir localizar mais rapidamente uma região no momento de um atendimento emergencial, agilizar os procedimentos de padronização dos nomes dessas localidades e atender outras áreas de pesquisa que necessitem de informações sobre as regiões territoriais.
“É um banco de dados muito rico em informações e, certamente, tornar disponível seu conteúdo será uma contribuição muito grande para historiadores, pesquisadores, atividades em escola, cultura, entre ou­­tros”, disse.
Inicialmente, estão disponíveis aspectos históricos somente de cidades do Paraná e do Rio de Janeiro. Até o início do ano que vem, serão incluídos dados relativos aos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
Serviço:
O Banco de Nomes Geográficos pode ser acessado pelo site www.bngb.ibge.gov.br.
“Até o período da República, as cidades geralmente nasciam em torno de uma capela. O indivíduo recebia terra do estado e dedicava uma parte dessa propriedade para o santo de sua devoção, construindo uma capela e inclusive registrando-a em cartório. Muitas vilas e cidades surgiram desse processo”, explica a historiadora Lóide Caetano, do Centro Universitário de Ma­­rin­­gá (Cesumar).
A influência católica também gerou outros nomes como Missal, localidade que teve sua colonização orientada pelos bispos das mitras diocesanas de Palmas e Toledo. A denominação da cidade foi inspirada pelos católicos, baseados no livro em que o sacerdote se orienta para o ofício religioso da Santa Missa.
Homenagens
Personalidades tiveram grafia alterada
Um dos expedientes mais comuns ao denominar os municípios é homenagear personalidades. Políticos, militares e profissionais liberais estão entre os que mais emprestaram seus nomes para as cidades paranaenses. Alguns, inclusive, tiveram seus nomes adaptados. É o caso de Clevelândia, no Sudoeste do estado, que faz menção ao ex-presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland. O “presente” foi dado por uma questão diplomática. No fim do século 19, a Argentina reivindicou a Região Oeste do Paraná e de Santa Catarina. O imbróglio só foi resolvido após o arbitramento de Cleveland em favor do Brasil.
Outro homenageado foi o ex-governador do Paraná Ney Braga (mandato entre 1961 e 1965), que teve seu nome invertido para batizar Braganey, na Região Oeste. Há também os municípios que levam nomes de quem ajudou a colonizar suas regiões. É o caso de Xam­­brê, no Noroeste, que homenageia o francês dr. Chambert, engenheiro da Companhia Byington.
A homenagem vale até pra quem não teve participação na história do município. Rolândia, no Norte do estado, por exemplo, era chamada inicialmente de Colônia Roland, uma homenagem ao guerreiro medieval Roland, um dos Doze Pares da França e sobrinho do imperador Carlos Magno. Assim como em Rolândia, cerca de 30 cidades alemãs têm o monumento do guerreiro.
Na falta de personalidades, sobrava para os parentes. Pran­­chita, que dá nome à cidade do Sudoeste, era filha do paraguaio João Romero Ferrera, fundador do povoado em 1902. Já o pai de Anahy, cidade no Oeste, era gerente da Companhia Brasileira de Imigração e Colonização. Durante o desbravamento, nas décadas de 1950 e 1960, a empresa povoadora deu dois lotes urbanos à jovem, reconhecendo a cessão do nome para a localidade.
Inspiração natural
Rios e animais designam localidades
Não são raros os casos em que recorrer à “mãe natureza” foi a solução encontrada para batizar uma localidade. Elementos geográficos, fenômenos naturais e animais se tornaram identidades de várias cidades paranaenses. Muitas levam o nome de rios e ribeirões, como Ampére, Pato Branco e Ariranha do Ivaí.
Em Uniflor, a nomenclatura foi dada à cidade por funcionários da Companhia de Terras Norte do Paraná, que, ao fazerem a demarcação da área a ser colonizada, se depararam com uma única flor, às margens de um rio. Já o município de Ventania leva o nome de uma fazenda. A denominação aconteceu em função de um devastador tufão, que varreu a região em meados de 1870.
Outra forte influência para a escolha dos nomes foi a cultura indígena. É o caso da capital Curitiba (derivado do tupi Ku’ri, que significa pinheiro; e tüba, que quer dizer muito) e Guarapuava (que em guarani significa “lobo guará arisco”). Já Bituruna leva o nome da tribo que habitava o local.
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/retratosparana/

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