Moravam na mesma casa dois gatos iguaizinhos no pelo, mas desiguais na sorte. Um, mimado pela dona, dormia em almofadões. O outro, no borralho. Um passava a leite e comia no colo. O outro, por feliz se dava com as espinhas de peixe do lixo. Certa vez, cruzaram-se no telhado e o bichano de luxo arrepiou-se todo, dizendo: - Passa ao largo, vagabundo! Não vês que és pobre e eu sou rico? Que és gato de cozinha e eu sou gato de salão? Respeita-me, pois, e passa ao largo... - Alto lá, senhor orgulhoso! Lembra-te de que somos irmãos, criados no mesmo ninho. - Sou nobre. Sou mais que tu! - Em quê? Não mias como eu? - Mio. - Não tens rabo como eu? - Tenho. - Não caças ratos como eu? - Caço. - Não comes rato como eu? - Como. - Logo, não passas dum simples gato igual a mim. Abaixa, pois a crista desse orgulho e lembra-te que mais nobreza do que eu não tens - o que tens é apenas um bocado mais de sorte... Monteiro Lobato |
quarta-feira, 7 de março de 2012
Refletindo.
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