Remissão é novo modo de tratar a depressão
Pesquisas provam que cada surto é pior que o anterior, reduzindo o cérebro e comprometendo suas funções
Características
Tristeza pode não ser sinal de depressãoO sintoma mais frequente para identificar a depressão é a tristeza exagerada, certo? Pois pes quisas recentes defendem que nem sempre isso é verdade. Segundo José Alberto Delporto, professor do departamento de psiquiatria da Unifesp, é comum o paciente deprimido apresentar um quadro de tristeza profunda, geralmente associado a outros sintomas, como cansaço e falta de energia, mas não são raros os casos em que o paciente não apresenta esse sinal.
O limite para identificar a tristeza característica da depressão e aquela comum do dia a dia, no entanto, é bastante tênue. “Esse sentimento faz parte do repertório humano e é muito comum a pessoa ter um dia feliz hoje e outro não tão bom amanhã, mas a tristeza passa a ser patológica quando afeta o paciente de uma maneira que impede prejudica seu trabalho, a vida em família, o contato com os amigos e ele passa a abrir mão de coisas que gostava de fazer porque não consegue superar esse sentimento negativo.”
Uma das características principais da doença é o alentecimento – diminuição do ritmo – das manifestações do corpo. “A pessoa perde a vitalidade de uma maneira que passa a ter um retardo psicomotor, falava muito devagar, anda igualmente de maneira lenta e tudo vai ficando em um ritmo cada vez mais arrastado.”
Sintomas
Os principais sintomas da depressão são cansaço excessivo, falta de energia, fadiga e dor. Os pacientes também apontam outras queixas, como insônia ou excesso de sono, problemas de apetite (comer demais ou de menos) e queixas gastrointestinais. Para reconhecer a doença, é importante que as manifestações durem pelo menos alguns meses.
Entre as crianças, o mais comum é elas ficarem apáticas, deixarem de brincar e fazerem atividades que gostam e terem episódios frequentes de irritabilidade.
“Às vezes, é aquela criança birrenta ou que arruma briga por qualquer coisa e os pais acham que é uma fase. Na verdade, é a depressão dando seus primeiros sinais.”
Controle
Tempo de tratamento é variadoO médico psiquiatra e professor da University of Texas Medical School Rakesh Jain explica que o tempo de tratamento da depressão varia muito entre os pacientes. “Imagine que a pessoa tem uma fratura no braço. Dependendo da gravidade do problema, ela pode imobilizar o membro por algumas semanas ou ficar incapacitada por meses e, após a retirada do gesso, ainda fazer sessões de fisioterapia. Com a depressão, o processo é semelhante e tudo depende da gravidade.”
Segundo ele, nos casos de pacientes com apenas um episódio de depressão, o tratamento dura cerca de um ano. Nos que já tiveram pelo menos três surtos anteriormente, o tempo é muito maior. “São anos sob efeito da medicação e, em alguns casos, o paciente passa o resto da vida em acompanhamento. O importante é que, se o médico nota que a pessoa está melhorando, deve ir tirando a medicação conforme ela for avançando.”
Alerta
Diagnóstico tem de ser precisoPara os especialistas, um dos problemas do diagnóstico de depressão é que frequentemente são propostas formas de tratar os sintomas e não a doença. “Pessoas depressivas têm problemas de sono e o médico acaba receitando medicamentos para insônia. A pessoa dorme melhor, mas a depressão não será controlada”, alerta o psiquiatra indiano Rakesh Jain.
A situação desperta atenção devido ao caráter dos medicamentos. “Os pacientes tendem a ficar dependentes dos remédios e passam a usá-los para resolver os sintomas sem se livrar da doença.” (RB)
“Hoje, o objetivo não é só amenizar sinais, mas frear a evolução da doença até que eles desapareçam de vez e o médico verifique que estão controlados a ponto de não comprometer mais o bem- estar do paciente e têm chances mínimas de voltarem”, comenta Rakesh Jain, professor clínico associado da University of Texas Medical School. O assunto foi um dos temas discutidos no Depression Forum, evento realizado entre os dias 9 e 11 deste mês em São Paulo reunindo médicos psiquiatras de todo o Brasil.
Ele explica que o mecanismo é bastante parecido com o que se busca no tratamento do câncer. “Quando a pessoa tem um câncer, os tumores precisam ser completamente tirados do corpo para que a doença não volte, já que mesmo um pequeno resquício pode desencadear um novo episódio. Com a depressão, a lógica é parecida e os sintomas devem ser totalmente extintos para que o paciente receba alta do tratamento.”
O objetivo é evitar uma realidade constante entre os pacientes: após algumas semanas tomando a medicação, eles tendem a se sentir melhores e logo abandonam o tratamento. O problema é que a doença volta – e muito pior – em poucos meses. Pesquisas mostram que cada surto depressivo é sempre mais forte que o anterior e, quanto mais episódios uma pessoa tem, mais danos para o corpo e para o cérebro vão sendo registrados.
Estudos usando tomografias revelam que pacientes recorrentes têm uma redução do tamanho do cérebro, o que vai comprometendo algumas funções do corpo, como a memória. “Como os episódios vão se tornando cada vez mais frequentes, intensos e difíceis de serem controlados, o tratamento precisa ser ainda mais incisivo e demorado para surtir efeito”, diz Jain.
Tratamento
O professor titular do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) José Alberto Delporto alerta que, caso a pessoa não atinja a remissão completa, as chances de ter uma recaída em alguns meses ou anos é grande. “Há estudos que mostram que a pessoa depressiva tem 50% de chances de ter uma recaída em até um ano. Por isso, é impossível falar de depressão sem associá-la a um tratamento de qualidade.”
Segundo Jain, é importante que o tratamento utilize não apenas um, mas uma combinação de todos os métodos disponíveis de controle do problema. “A primeira recomendação é fazer exercícios físicos e apostar na psicoterapia com um profissional de confiança. A medicação só deve entrar em cena em casos em que o médico verifique que esses recursos não foram suficientes.”
Mesmo assim, o paciente deve manter o acompanhamento para que as doses do remédio sejam diminuídas gradualmente, conforme seu quadro depressivo melhore, ou mesmo trocadas, caso não surtam efeito. E, mesmo após a remissão, o paciente deve continuar marcando consultas periódicas com seu médico.
A repórter viajou à convite do laboratório farmacêutico Pfizer.
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