Hospitais ameaçam fechar as portas em Laranjeiras do Sul
Os hospitais São Lucas e São José de Laranjeiras do Sul podem fechar as portas. A informação foi repassada pelos diretores Januário de Sio Neto e Paulo Bianchini Perez. Ambos estabelecimentos sofrem com o repasse insuficiente e com a banalização do atendimento do Sistema Único de Saúde.
Conforme Januário, esta é uma situação que se arrasta há anos, mas que inflamou ainda mais nos últimos meses. Os hospitais sobrevivem basicamente dos atendimentos do SUS. No entanto, a tabela de valores não é reajustada há quase 10 anos, salvo em algumas situações pontuais. Segundo ele, no último ano, a inflação hospitalar foi de cerca de 22% e a maioria dos procedimentos hospitalares ficaram com os valores sub-corrigidos.
Além disso, houve a retirada de um teto extra dos dois hospitais que Laranjeiras do Sul tinha com o governo do Estado e resultou na subtração de 30% do faturamento. Januário lembrou que a região é pobre e que os dois estabelecimentos ainda são obrigados a executar um trabalho social. “Se continuar como está, é inevitável o fechamento dos hospitais”, alertou.
Segundo ele, há certa indiferença com o problema, de todas as instâncias. Além disso as cobranças com as questões sanitárias, de qualificação dos hospitais e exigências com os funcionários contribuem com a inviabilidade do funcionamento. “O que me parece as vezes é que as pessoas, em especial os nossos gestores, não estão acreditando nisso. Eles não estão percebendo a verdadeira dimensão do problema. Se fechar é um problema grave para nós, mas muito mais para toda a região”, lamentou.
Januário disse ainda que os hospitais estão bancando muitos procedimentos que são obrigações dos municípios. Segundo ele, a saída não é apenas a injeção de dinheiro, mas sim parcerias com as prefeituras e com o Estado, para que de fato o funcionamento seja viabilizado com estabilidade. “Já faz muitos anos que os hospitais funcionam no limite e não têm lucro. Ambos estão no vermelho e muitas vezes os médicos estão colocando dinheiro para manter as portas abertas”, revelou.
REALIDADE SEMELHANTE
Paulo Bianchini Perez disse que a situação é exatamente a mesma no hospital São José. Segundo ele, por exigência, há necessidade de mais funcionários e o governo cobra uma série de especializações. No entanto, não se faz o reajuste necessário para remunerar os funcionários.
Conforme ele, a diminuição da arrecadação do internamento hospitalar pode não ser sentida pela população de um modo geral, mas quem necessita de uma cirurgia ou de um procedimento mais demorado, precisa esperar mais tempo na fila de espera.
Perez lembrou que Laranjeiras do Sul ainda é privilegiada no que tange a saúde pública. Existe um sistema de plantão e não há casos de pessoas que tenham que voltar para casa sem o atendimento. No entanto, a incerteza já bate a porta dos dois hospitais. “Está bom, mas não sabemos até quando vamos conseguir aguentar”, alertou.
ABUSO NOS PLANTÕES
Januário e Paulo apontaram outro problema que complica ainda mais a situação. O plantão SUS, que é semanalmente alternado entre os dois hospitais, deve ser usado exclusivamente para casos de urgência e emergência. No entanto, eles reclamaram que ele está sendo utilizado como um ambulatório, para consultas de rotina. “Estão usando de maneira errada, não estão cuidando do que tem. Se continuar dessa forma, os dois vão ter que parar. Quem não cuida o que tem fica sem nada”, enfatizou Januário.
Paulo lembrou que isso aumenta os gastos dos hospitais que deveriam, nesses casos, se concentrar nos casos mais graves. Embora haja um contrato com a Assiscop, existe defasagem no valor gasto, com o repassado pelo cinco municípios do consórcio.
Além disso, há dificuldades de se encontrar plantonistas. Os médicos fixos dos hospitais não são suficientes e o que tem disponibilidade encontram salários mais atrativos em outros municípios da região. “Os hospitais estão virando um postão de saúde noturno”, completou Neto.
DEMISSÕES
No hospital São Lucas alguns funcionários foram demitidos para a contenção de gastos e a dívida com fornecedores precisou ser negociada. Ainda sim, o corpo clínico conta com 10 médicos e a existem mais 36 funcionários nos demais setores. No São José, são 11 médicos e mais de 40 colaboradores.
Os dois diretores pediram para que a população tenha compreensão das dificuldades e principalmente que os gestores púbicos se sensibilizem e busquem formas de colaborar com a situação. Eles remeteram um ofício à Assiscop pedindo uma reunião com os secretários de saúde e prefeitos para tentar uma solução emergencial.
SOLUÇÃO DISTANTE
A assistente administrativa Marinilse Mariano, que está respondendo pela secretaria de Saúde de Laranjeiras do Sul, durante as férias do titular Valdemir Scarpari, disse que embora os gestores da pasta busquem estratégias com a secretaria de Estado frequentemente, nesse caso há pouco que a Semusa possa fazer. “É um problema que a solução está longe. São os únicos hospitais da região. Caso fechem, teríamos que mandar para Guarapuava, Cascavel e Curitiba. Complicaria tudo”, comentou.
Sobre o mal uso dos serviço SUS, Marinilse disse que trata-se de uma questão de educação. Nas unidades de saúde, é preciso enfrentar filas e um número limitado de consultas. Já nos hospitais, o atendimento é imediato.
SECRETÁRIO DEFENDE REAJUSTE DA TABELA SUS
Por telefone celular, o secretário de Saúde de Laranjeiras do Sul, Valdemir Scarpari. Ele admitiu que há pessoas que abusam do atendimento do plantão. “Algumas pessoas vão no plantão sem ter nada, mas é o médico quem tem que avaliar”, lembrou. Na opinião dele, muitos pacientes deixam de ir no posto, que tem muita gente, para ir no hospital que é mais confortável à noite, o que sobrecarrega o serviço.
Para o plantão das 17 às 8 horas da manhã, aos sábados, domingos e feriados as prefeituras de Laranjeiras do Sul, Marquinho, Porto Barreiro e Virmond pagam o plantão através da Assiscop. Por mês, segundo Scarpari, são repassados R$ 50 mil para os dois hospitais, sendo R$ 25 para cada um. “Quando o médico de plantão atende, interna pelo SUS e os pacientes pegam medicamentos nos postos de farmácias dos postos de cada município”, esclarece o secretário.
O secretário de Saúde de Laranjeiras do Sul, que faz parte do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasens) disse que é uma luta da entidade o reajuste da tabela SUS. “Outra briga é que aumente o valor dos ambulatórios. Hoje paga-se muito pouco. Varia de R$ 15 a R$ 20 conforme o procedimento ambulatorial. Queremos o aumento de valor e número de procedimentos dos hospitais”, defende Scarpari.
AIH's
Quanto ao pagamento das Autorização de Internamento Hospitalar (AIH's) dos dois hospitais, o repasse baixou e o Estado não vai mudar. “Estamos pleiteando as campanhas de cirurgias eletivas – que não são emergenciais. Com a redução das AIH's os hospitais só estão atendendo as emergências”, destaca o secretário de Saúde de Laranjeiras. Com essa campanha haverá recurso com AIH's extra teto para cirurgias eletivas. “Entendo a dificuldade dos hospitais, os municípios pagam R$ 50 mil através da Assiscop e somos parceiros para ajudá-los nesta luta”, conclui Scarpari.
Matheus Müller/Jornal Correio do Povo
Conforme Januário, esta é uma situação que se arrasta há anos, mas que inflamou ainda mais nos últimos meses. Os hospitais sobrevivem basicamente dos atendimentos do SUS. No entanto, a tabela de valores não é reajustada há quase 10 anos, salvo em algumas situações pontuais. Segundo ele, no último ano, a inflação hospitalar foi de cerca de 22% e a maioria dos procedimentos hospitalares ficaram com os valores sub-corrigidos.
Além disso, houve a retirada de um teto extra dos dois hospitais que Laranjeiras do Sul tinha com o governo do Estado e resultou na subtração de 30% do faturamento. Januário lembrou que a região é pobre e que os dois estabelecimentos ainda são obrigados a executar um trabalho social. “Se continuar como está, é inevitável o fechamento dos hospitais”, alertou.
Segundo ele, há certa indiferença com o problema, de todas as instâncias. Além disso as cobranças com as questões sanitárias, de qualificação dos hospitais e exigências com os funcionários contribuem com a inviabilidade do funcionamento. “O que me parece as vezes é que as pessoas, em especial os nossos gestores, não estão acreditando nisso. Eles não estão percebendo a verdadeira dimensão do problema. Se fechar é um problema grave para nós, mas muito mais para toda a região”, lamentou.
Januário disse ainda que os hospitais estão bancando muitos procedimentos que são obrigações dos municípios. Segundo ele, a saída não é apenas a injeção de dinheiro, mas sim parcerias com as prefeituras e com o Estado, para que de fato o funcionamento seja viabilizado com estabilidade. “Já faz muitos anos que os hospitais funcionam no limite e não têm lucro. Ambos estão no vermelho e muitas vezes os médicos estão colocando dinheiro para manter as portas abertas”, revelou.
REALIDADE SEMELHANTE
Paulo Bianchini Perez disse que a situação é exatamente a mesma no hospital São José. Segundo ele, por exigência, há necessidade de mais funcionários e o governo cobra uma série de especializações. No entanto, não se faz o reajuste necessário para remunerar os funcionários.
Conforme ele, a diminuição da arrecadação do internamento hospitalar pode não ser sentida pela população de um modo geral, mas quem necessita de uma cirurgia ou de um procedimento mais demorado, precisa esperar mais tempo na fila de espera.
Perez lembrou que Laranjeiras do Sul ainda é privilegiada no que tange a saúde pública. Existe um sistema de plantão e não há casos de pessoas que tenham que voltar para casa sem o atendimento. No entanto, a incerteza já bate a porta dos dois hospitais. “Está bom, mas não sabemos até quando vamos conseguir aguentar”, alertou.
ABUSO NOS PLANTÕES
Januário e Paulo apontaram outro problema que complica ainda mais a situação. O plantão SUS, que é semanalmente alternado entre os dois hospitais, deve ser usado exclusivamente para casos de urgência e emergência. No entanto, eles reclamaram que ele está sendo utilizado como um ambulatório, para consultas de rotina. “Estão usando de maneira errada, não estão cuidando do que tem. Se continuar dessa forma, os dois vão ter que parar. Quem não cuida o que tem fica sem nada”, enfatizou Januário.
Paulo lembrou que isso aumenta os gastos dos hospitais que deveriam, nesses casos, se concentrar nos casos mais graves. Embora haja um contrato com a Assiscop, existe defasagem no valor gasto, com o repassado pelo cinco municípios do consórcio.
Além disso, há dificuldades de se encontrar plantonistas. Os médicos fixos dos hospitais não são suficientes e o que tem disponibilidade encontram salários mais atrativos em outros municípios da região. “Os hospitais estão virando um postão de saúde noturno”, completou Neto.
DEMISSÕES
No hospital São Lucas alguns funcionários foram demitidos para a contenção de gastos e a dívida com fornecedores precisou ser negociada. Ainda sim, o corpo clínico conta com 10 médicos e a existem mais 36 funcionários nos demais setores. No São José, são 11 médicos e mais de 40 colaboradores.
Os dois diretores pediram para que a população tenha compreensão das dificuldades e principalmente que os gestores púbicos se sensibilizem e busquem formas de colaborar com a situação. Eles remeteram um ofício à Assiscop pedindo uma reunião com os secretários de saúde e prefeitos para tentar uma solução emergencial.
SOLUÇÃO DISTANTE
A assistente administrativa Marinilse Mariano, que está respondendo pela secretaria de Saúde de Laranjeiras do Sul, durante as férias do titular Valdemir Scarpari, disse que embora os gestores da pasta busquem estratégias com a secretaria de Estado frequentemente, nesse caso há pouco que a Semusa possa fazer. “É um problema que a solução está longe. São os únicos hospitais da região. Caso fechem, teríamos que mandar para Guarapuava, Cascavel e Curitiba. Complicaria tudo”, comentou.
Sobre o mal uso dos serviço SUS, Marinilse disse que trata-se de uma questão de educação. Nas unidades de saúde, é preciso enfrentar filas e um número limitado de consultas. Já nos hospitais, o atendimento é imediato.
SECRETÁRIO DEFENDE REAJUSTE DA TABELA SUS
Por telefone celular, o secretário de Saúde de Laranjeiras do Sul, Valdemir Scarpari. Ele admitiu que há pessoas que abusam do atendimento do plantão. “Algumas pessoas vão no plantão sem ter nada, mas é o médico quem tem que avaliar”, lembrou. Na opinião dele, muitos pacientes deixam de ir no posto, que tem muita gente, para ir no hospital que é mais confortável à noite, o que sobrecarrega o serviço.
Para o plantão das 17 às 8 horas da manhã, aos sábados, domingos e feriados as prefeituras de Laranjeiras do Sul, Marquinho, Porto Barreiro e Virmond pagam o plantão através da Assiscop. Por mês, segundo Scarpari, são repassados R$ 50 mil para os dois hospitais, sendo R$ 25 para cada um. “Quando o médico de plantão atende, interna pelo SUS e os pacientes pegam medicamentos nos postos de farmácias dos postos de cada município”, esclarece o secretário.
O secretário de Saúde de Laranjeiras do Sul, que faz parte do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasens) disse que é uma luta da entidade o reajuste da tabela SUS. “Outra briga é que aumente o valor dos ambulatórios. Hoje paga-se muito pouco. Varia de R$ 15 a R$ 20 conforme o procedimento ambulatorial. Queremos o aumento de valor e número de procedimentos dos hospitais”, defende Scarpari.
AIH's
Quanto ao pagamento das Autorização de Internamento Hospitalar (AIH's) dos dois hospitais, o repasse baixou e o Estado não vai mudar. “Estamos pleiteando as campanhas de cirurgias eletivas – que não são emergenciais. Com a redução das AIH's os hospitais só estão atendendo as emergências”, destaca o secretário de Saúde de Laranjeiras. Com essa campanha haverá recurso com AIH's extra teto para cirurgias eletivas. “Entendo a dificuldade dos hospitais, os municípios pagam R$ 50 mil através da Assiscop e somos parceiros para ajudá-los nesta luta”, conclui Scarpari.
Matheus Müller/Jornal Correio do Povo
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