terça-feira, 14 de junho de 2011

Palavra Amiga - Desânimo.

José acordou com uma dor de cabeça terrível, parece que nem havia dormido, olhou ao redor no quarto humilde e viu os três filhos ainda dormindo, sua esposa se remexeu ao seu lado, acordou meio assustada e sem falar nada levantou-se e foi preparar um café. Será que ainda havia pó? Será que ainda tinham açucar? Esse pensamento lhe fez lembrar que o seu dinheiro da indenização da empresa tinha terminado há 2 meses, no seu bolso algumas moedas, talvez desse para comprar os pães para os meninos. Mas, o que não o deixou dormir era o aluguel atrasado, três meses de aluguel atrasado, ele que em 8 anos nunca havia atrasado um dia sequer, hoje receberia a visita do proprietário cobrando mais uma vez...

        Pulou da cama, lavou o rosto ainda por barbear, penteou os cabelos rebeldes e compridos, e foi em direção a venda do Amaro que ficava bem perto de sua casa, comprou três pães com suas últimas moedas, levou para os meninos. Que seria deles dai pra frente, há mais de 8 meses ele procurava emprego diariamente, andava quilômetros e mais quilômetros a pé na busca de um emprego, no inicio buscava em sua própria profissão, mas depois de tanta falta, estava aceitando qualquer coisa, nem assim arrumou emprego.

        Entrou em casa e percebeu a esposa no fogão com o olhar perdido, seu coração ficou apertadinho, uma lágrima teimou em fugir pelo rosto cansado, e perguntou o que estava havendo, ela com a voz triste lembrou-lhe que não haveria nada para o almoço de hoje, que ela não sabia o que haveriam de fazer...e sem suportar a angústia de tantos meses represada no peito, ambos desabam a chorar, abraçados em pé naquela cozinha, deixam escorrer as lágrimas da humilhação, do desespero e da angústia que a miséria sabe trazer. Só pararam quando perceberam as crianças ali paradas, assistindo aquela cena sem entender nada.

      José falou para a mulher que iria sair, para ela ficar tranqüila (nem ele sabia porque dissera aquilo) que ele daria um jeito na situação. Saiu a rua, com um vazio no peito( no estômago também, pois estava sem comer), ele precisava arrumar uma maneira de ganhar dinheiro para levar comida aos seus filhos. Procurou no primeiro bar um emprego para lavar o chão, ajudar na cozinha, qualquer coisa, mas não conseguiu nada. Entrou em um monte de lugares diferentes e nada...quase 9:30 da manhã e ele cansado senta-se próximo a uma calçada, desesperado lembra-se de Deus, quanto tempo ele não falava com Deus, parece que a dor afastou ele de Deus. 
Naquele momento sem mais forças ele pede a deus que o ouça, que o ajude a levar o alimento dignamente para casa..., ao abrir os olhos percebe que está diante de uma loja de materiais de limpeza, de repente uma luz diante dos seus olhos o faz olhar para as vassouras e rodos, e ele como um náufrago que encontra uma bóia vai até a loja e pede ao proprietário a oportunidade de revender aquelas vassouras e rodos pelas ruas.

        O proprietário que possuía uma pequena fábrica atrás da loja sentindo que aquele homem estava disposto a trabalhar, resolve lhe dar uma dúzia de cada modelo para testar essa possível venda. Combinaram o preço de cada unidade, José percebeu que poderia ganhar um bom dinheiro se vendesse todos o material. Colocou tudo nos ombros e saiu com disposição, batendo de porta em porta, sendo chamados por uns, afastados por outros, em menos de 50 minutos ele vendeu 24 peças, com lucro de R$ 0.80 em cada peça, ganhou quase R$ 20,00 em menos de uma hora. Voltou correndo ao dono da loja que assustado pensou que o novo vendedor havia sido assaltado, afinal ele saiu com 24 vassouras e voltou de ombro vazio. Surpreso conferiu o dinheiro da venda das vassouras e falou entusiasmado que José era um pé quente nas vendas.

       José pediu um tempo para ir até em casa levar uns mantimentos e que voltaria para vender mais na parte da tarde. Feliz da vida, apertando o dinheiro em sua mão como se fosse um tesouro, José entra no Super Mercado e compra o bem mais precioso de quem está com fome: alimentos. Comprou o bastante para o almoço e o jantar daquele dia e feliz como há muito tempo não se sentia foi para casa, onde a mulher o recebeu feliz e espantada com aqueles pacotes. Enquanto ela cozinhava ele explicou o seu trabalho, contou sobre a sua oração, a luz sobre as vassouras e comeu feliz aquela refeição que prometia muito mais.

      E assim foi, a venda de porta em porta prosperava a cada dia, José não tinha medo de trabalhar, andava feliz pelas ruas, logo formou uma clientela, depois de um mês de trabalho descobriu os condomínios e começou a venda nos blocos de apartamentos da cidade, e começou a ganhar muito mais do que esperava, no segundo mês comprou um carro, e no final de um ano ficou sócio da fábrica de vassouras.

        Hoje, 8 anos depois, ele me conta emocionado essa história,e de como se tornou o dono daquela e de mais três fábricas de vassouras no Estado. Vontade e determinação são os ingredientes capazes de modificar qualquer situação. Transformar nossa dor em alavanca para nossas conquistas, é possibilidade que todos nós possuímos. Quando abandonamos o lamento, a capa de vítima de nossos ombros, tudo fica possível.

      Bendita seja a dor que nos retira do estado de reclamação e nos leva a agir.
      Bendita seja a dor que nos chama de volta a realidade, nos mostrando o quanto podemos fazer.
      Bendito seja Deus, que nos empurra sempre para a frente, mesmo quando não entendemos o método utilizado.

         Eu acredito em você, sempre!

       Paulo Roberto Gaefke

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